terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Solidão


Véspera de Carnaval, 8 da noite, estava em casa com um amigo a tempo de irmos jantar, quando tocam à porta. Entreolhamo-nos e acabámos a frase antes de eu me levantar para atender a campainha, tocada uma só vez e sem pressas…
À porta estava uma sra. já oom alguma idade, 72 anos, disse-me ela depois, com um rosto belíssimo, olhos marejados de lágrimas e vestida de roupão azul. Nunca a tinha visto, apesar de ela morar na minha rua, mais perto da outra mercearia, talvez daí… Disse-me ter recebido uma notícia muito má pelo telefone e que estava muito nervosa, pedindo-me um chá de camomila, enquanto apertava nervosamente o pequeno papel que trazia na mão esquerda. Fi-la entrar e dei-lhe um chá, não de camomila, que não tinha, mas um roibbos, que também não tem teína, pensei na minha ingenuidade… Perguntei-lhe se não conhecia ninguém no prédio, a resposta foi de não andar nas casas dos outros, e, mesmo vivendo por aqui há mais de 40 anos, estar sozinha…
Expliquei-lhe que estávamos de saída e despedi-mo-nos dela. Ficou muito sensibilizada pelo chá, mas perturbada quando lhe disse que podia levar a caneca, sempre lhe serviria para o chá do dia seguinte. Enquanto saíamos entrava no prédio alguém a quem a sra. voltou a perguntar se não tinha chá de camomila. A resposta foi positiva e subiu a buscá-lo. Enquanto isso a sra bebia o chá nas escadas e disse-me: sabe, mais um bocadinho e guardava já a chávena…
Despedi-me dela e disse-lhe fazer muito gosto em que ficasse com ela, lamentando ter de sair. Ela só me repetiu o tenha muita sorte e que a vida lhe dê tudo o que quiser.
Fui jantar com o coração e a consciência mais pesados…

A foto é minha, de como a velhice deveria ser....

1 comentário:

Bruno Júlio disse...

Solidão, solidão, eu é que já me sinto só sem os posts deste Blog!